Banco exigia de mutuários a abertura de conta corrente e contratação de seguro.
A Caixa Econômica Federal foi condenada pela 5ª Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) a pagar indenização de R$ 300 mil, a título de danos morais coletivos, pela prática de venda casada.
No caso, a Caixa exigia dos mutuários a abertura de conta corrente na instituição financeira para o pagamento das parcelas do contrato de financiamento por meio de débito automático, assim como impunha a contratação de seguro de crédito interno. A decisão, unânime, é válida para todo território nacional.
O artigo 39, Inciso I, do Código de Defesa do Consumidor estabelece como prática abusiva “condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos”. Tal procedimento é mais conhecido como “venda casada”
A Caixa recorreu ao TRF1 contra sentença do Juízo Federal da 1ª Vara da Subseção Judiciária de Patos de Minas (MG) que, nos autos de ação civil pública movida pelo Ministério Público Federal (MPF), determinou que a instituição financeira se abstenha de exigir dos mutuários, por ocasião da celebração de contratos de financiamento, a abertura de conta corrente na instituição, facultando-lhes outra opção de pagamento das respectivas prestações que não seja apenas o débito automático em conta corrente, abstendo-se, ainda, de impor a contratação de seguro de crédito interno com a instituição bancária.
A instituição financeira, no entanto, sustenta que não ficou comprovada a suposta prática de ‘venda casada’, na medida em que “não impõe aos interessados por empréstimos a abertura de conta corrente como condição à concessão do crédito, tampouco a aquisição de seguros, exceto quando legalmente exigidos”. Afirmou que disponibiliza, em seu site na internet, material com orientações pertinentes à proibição da venda casada, esclarecendo, ainda, “que as ofertas de serviços e produtos pela Caixa aos seus clientes não se caracterizam em ilegalidade e são inerentes às atividades de qualquer instituição financeira”.
A Caixa afirma também os clientes são livres para aceitar ou não a proposta, de acordo com a sua conveniência. Por fim, argumenta que na questão em análise “não restou configurado qualquer dano moral ou material, muito menos coletivo, à míngua de qualquer violação aos direitos de seus clientes”. Requereu, assim, o provimento de seu recurso de apelação para que a sentença seja reformada.
O Colegiado não aceitou as razões apresentadas pela Caixa. Relator do processo, o desembargador federal Souza Prudente afirma que , “segundo demonstra o conjunto fático-probatório dos autos, não resta a menor dúvida de que a Caixa condiciona, efetivamente, a concessão de empréstimo da linha de crédito PROGER à abertura de conta corrente, não facultando aos tomadores do crédito outra forma de pagamento do financiamento, impondo-se-lhes, ainda, a contratação, junto à própria CEF, do denominado seguro de crédito interno, a caracterizar, na espécie, a prática ilegal e manifestamente abusiva chamada “venda casada”.
Procurada para comentar a decisão, a Caixa informou que já opôs Embargos Declaratórios da decisão do Tribunal Regional Federal visando, posteriormente, interpor o devido recurso ao Superior Tribunal de Justiça. A Caixa reafirmou também que sempre combateu a prática da venda casada e ratifica que a obtenção de financiamentos não está condicionada à aquisição de outros produtos, em nenhuma hipótese.
Fonte: O Globo.